sábado, novembro 01, 2008

«Que dia é hoje»


«Que dia é hoje


Que ar é este? Que cores? Que sensações? Eu já vi isto. Eu já vivi isto.

Aquele dia especial. Especial por nada. Apenas mais um dia. Um dia diferente. Um dia para me sentir assim e não doutra maneira. Estar com ela, fazer isto, fazer aquilo, comer isto, experienciar isto. Mas não isto. Não aguento assim. Perdi-me no dia. Agora assusto-me ao vê-lo desta outra maneira. Sem isto, sem aquilo, apenas assim. Não é mau. É PÉSSIMO! Seria bom.

Mas hoje não é bom. Simplesmente não é.

Chegar a casa.

Abrir uma porta. Abrir outra. E outra. Vejo-o. Sinto-o. Entreaberto. Não consigo. Tento-me esconder. Fecho uma porta. E a outra. E A outra. Por onde quer que olhe ele está lá. Está à vista, ao cheiro, ao tacto. Não dá.

Sento-me. E tento-me abstrair. No fundo sei que não vou conseguir, até ele acabar…
Nunca mais acaba. É óptimo. Mas não hoje. Hoje não. Talvez mude. Espero que mude. Vai MUDAR! É bom ser positivo. Mas não acredito nisso. Não hoje. Não nestes dias. Que são diferentes, mas que acabam por ser iguais.

Não devia ser assim. Está mal. Ninguém merece isto.

Ao escrever, ele vai mudando. Começa a resultar. Não posso é pensar. Sentir apenas, como se estivesse a acontecer. E está. Pouco a pouco, consigo fugir. Estou seguro. Mas não muito seguro. Qualquer fragmento deste sentimento que me atordoe a razão e estou feito.

Espero que dure até à parte boa. Aí já não me importarei e o dia até terá valido a pena.

Aí, que nunca mais chega, que está tão longe e tão perto.

Um toque no telemóvel.

Uma música.

Um mail.

Alguém.

Salvem-me.»


Um texto do Viriato, que ele pediu para ser postado no Krudélia.

3 comentários:

Maria Nariz disse...

Sim eu percebo-te.
Ah! Eu também tenho pressa. Acho que é de ter tão aguçada a noção da morte. Tenho medo de estar sempre a perder alguma coisa nalgum lugar.
Acho que a interrogação "Que dia é hoje?" é interessante.
Hoje são muitos dias, depende da hora, da pessoa, do lugar.

Anónimo disse...

O Fernando Pessoa anda-te mesmo a dar a volta ao miolo!

Sir Viriato disse...

A mim ou à M.N?
De qualquer das maneiras, acho que tal não se aplica a nenhum dos nossos casos.

De certo modo, ele está-me na cabeça, mas não me está a dar a volta.

E eu não considero o meu texto nada parecido com Pessoa nem com nenhum dos seus heterónimos.

Eu considero um texto krudélia. :P
Não sei porquê mas este blog, parece que influencia o tipo de escrita que para aqui anda. Não sei se é da cor, ou do nome ou de qualquer outra coisa.
Ou talvez seja só uma motivação para eu escrever aquilo que sinto, penso, em vez de sentir pensar somente.

Uma espécie de imortalizar, os sentidos e a razão. No sentido que cada um quiser entender.