domingo, novembro 23, 2008

Festas

Festas. Fico sempre deprimida nas festas. A animação à minha volta e os medos dentro de mim. Música, gritos, pessoas, risos, guinchos, jogos, confusão, confusão, correria, música, risos, pessoas. E eu sozinha, mais do que nunca, apenas com as minhas cismas e anseios. Toda a gente à minha volta e eu com medo da solidão, do fracasso, da mediocridade, da vida, da morte. Do fim.

Festas. Há sempre uma altura, depois das surpresas, dos cozinhados, dos preparativos, das expectativas, quando deixo de ter coisas a fazer e a correria acaba, em que eu deixo de ter um lugar ali. Risos e eu parada, jogos e eu num sorriso amarelo, piadas e eu a vaguear sem ouvir. E vou de um lado ao outro da sala, de um lado ao outro da casa, à procura de algo errado a precisar de arranjo, de alguém a precisar de ajuda. Sento-me e observo. Levanto-me e percorro a sala. Até que me isolo num canto, parada. Até que saio e fico à porta. A festa lá dentro e eu no corredor frio. A festa lá dentro e eu cá fora, lugar que me pertence e a que eu pertenço muito mais do que àquela multidão. E eu cá fora, a ouvir a música através da porta fechada, a ouvir os gritos e os risos e as notas e os moches e a música, tudo longe, no mundo. E eu com medo que o tempo passe e eu me esqueça, com medo do simples passar do tempo e eu sem o conseguir agarrar. E eu com medo que tudo arda e expluda.

O natal é a maior das festas e a razão dos meus medos.

5 comentários:

Sir Viriato disse...

Eu compreendo-te. Também me sinto assim, depois de um dia em cheio e fico em casa sem nada para fazer. Pode parecer tédio, mas ultrapassa isso. Quando me parece dia para fazer isto e não o faço... Mas tu não sei, tens que descobrir alguma coisa que te motive..

Azulada Clara disse...

Lool!
Isto não é um pedido de ajuda. Mas obrigada! :)

Maria Nariz disse...

Sim. Percebo agora que as tuas depresões pós-festa são parecidas com os meu ataques de pânico.

Apenas nada têm a ver.

Eu tenho medo das fotografias, dos cafés daqui a 7 anos...

Tu és pura e simplesmente parva!

Sir Viriato disse...

É um pouco isso M.N. Mas não a insultes...

. disse...

Béu :) A minha primeira vontade é citar a tua amiga Maria Nariz (bonito nome, por sinal). A segunda é abraçar-te (nojo, eu sei). Queria poder garantir-te que seria sempre como quando eras pequenina e metias a cabeça entre os ferros da varanda e dizias "hoje vens a casa minha?". Que era assim tão fácil ser feliz. Estava contigo e sentia-te feliz. Não é sempre fácil e às vezes parecem anos os dias em que o mundo não se sente nosso. Creio que quanto mais especial se é, mais difícil se apresenta a tarefa da adaptação e, infelizmente, surge muitas vezes a resignação da acomodação (perdoa a assonância).. Não me quero armar em Sophia (tu conheces o desgosto), mas tenho a certeza que para ti virá, mais cedo ou mais tarde, aquele dia em que o mundo será de novo unido e o encontro com o real será no teu âmago.
Enquanto não vier, estou aqui *